Uma Pomba
Em uma manhã eu estava andando pela rua quando me deparei com uma pequena pomba estirada no chão, a pobre tinha a aparência de ainda estar viva, porém não havia mais nem um sopro de vida para dar, este tinha sido o seu triste fim e era definitivo. A imagem daquela pobre não saia da minha cabeça, não sei dizer porque, mas fiquei incomodada com a cena e muitas coisas começaram a passar pela minha cabeça, quem a havia matado, seria a morte dela o resultado de uma brincadeira de garotos, ou teria ela sido atropelada por um carro, uma bicicleta. Pensei também que a causa pudera ser por envenenamento, mas enfim, nada fiz, apenas passei, olhei e fui embora. Na manhã seguinte passei pelo mesmo lugar, e a pomba continuava ali, a olhei por cerca de dois segundos e segui meu caminho. Desta vez a pomba já não possuía a mesma aparência, ela estava no mesmo lugar, porém com centenas de formigas em volta de seu pequeno e frágil corpo. Quando cheguei em meu trabalho, comecei a refletir sobre aquela visão, será que eu devia a ter tirado dali, antes que seu corpo fosse inteiro invadido por bichos? Ou será que eu não devia realmente interferir? Estes foram apenas os primeiros, dos milhares de pensamentos que tomaram conta da minha cabeça no decorrer daquele dia. Se a formigas estavam ali comendo o que restava dela, é porque na verdade isto fazia parte da natureza, sou capaz de entender isso e aceito, mas por que tem que ser tão triste. Se esta é a lei da natural das coisas, por que não apenas aceitamos e pronto? Eu não queria ser poupada da morte daquela pomba, mas me senti tão íntima de sua pobre existência que até parecia que eu a conhecia. Tive vontade de ter podido pelo menos uma vez a ter visto voar, apreciar por um segundo pelo menos, o abrir e fechar de suas asas.
Quando cheguei em casa não quis ver ninguém, a minha tristeza era tão grande, que nem mesmo sei dizer porque. Como a morte de uma simples pomba poderia me deixar tão abalada, comecei a chorar muito e incessantemente, até cair no sono.
Quando saí de casa na manhã seguinte resolvi pegar outro caminho, não queria mais saber o que poderia ter acontecido com a pomba, cheguei ao trabalho, fiz minhas tarefas diárias como sempre e fui embora e repeti o mesmo processo nos dias que se decorreram.
Hoje cheguei em casa no fim da tarde como de costume, abri a porta da sala e vi que minha mãe estava falando com alguém ao telefone, isso me fez lembrar que não havia retornado uma ligação que uma amiga me fizera dias antes, retornaria então quando minha mãe terminasse de falar. Quando ela desligou o telefone, percebi que algo estava estranho, a face de minha mãe estava tomada por um espanto que me deixou intrigada. Perguntei a ela o que havia ocorrido e ela me pediu pra sentar.
A pessoa do outro lado da linha era justamente a mãe de minha amiga.
E o que minha mãe me contou na sequência me fez compreender o que antes não fazia sentido. Infelizmente era tarde demais para retornar a ligação, era tarde demais para fazer qualquer coisa.
Eu só posso me lembrar de milhares de momentos que vivemos juntas, me lamentar e até mesmo chorar. Mas eu preciso continuar a percorrer meu próprio caminho, porque a natureza segue, e por mais injusto que possa parecer, não podemos interferir.
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