Apartamento 22 ou morar num abraço
O mundo girando na cabeça
daquele cara de jaqueta azul, dançando músicas alternativas sob
efeito alcoólico. Seu colarinho evidenciando um cheiro de uísque,
misturado com Marlboro de filtro vermelho e outras bebidas baratas.
Pra ele aquela era mais
uma noite em que tentava não ser um solitário qualquer dentro de
um apartamento qualquer de número 22.
Seria mais uma noite em
que ele chegaria numa mulher não muito bonita e nem muito feia, com
a intenção de levá-la pra casa pra acordar na manhã seguinte ao
seu lado e apreciá-la dormindo como se fosse sua namorada.
Só contemplá-la por 5
minutos até então ela sentir que está sendo observada e acordar
assustada como de um de um sonho ruim. A mesma cena, semanas após
semanas, e a cada vez mais um gosto descartável em seu paladar.
Ele procurava uma mulher
com a qual pudesse repetir a cena da manhã, e não assustá-la. Procurava
algum detalhe que o fizesse reconhecê-la, talvez seu cheiro, um
perfume de flor de lótus, um cílio caído no rosto que ele então iria
retirar olhando no fundo de seus olhos.
E dela, ele queria um abraço no qual pudesse morar.
E enquanto bebia mais um gole, observando a garrafa de Jack ainda pela metade, quando ainda conseguia pensar e andar sem
trombar, ele apenas desejou: que se algum dia encontrasse a mulher de
seus sonhos, que ela o reconhecesse. Que aquele tênis All Star
branco sujo de vinho de um cara mais tropeçando no próprio cadarço
do que dançando; eram apenas os detalhes que a fariam perceber, que
ele era um pobre solitário a procura de um amor em lugares incertos.
E se não fosse pedir muito, que ela não lhe passasse o número
errado e nem o enxergasse como um bêbado qualquer, numa noite
qualquer na Rua Augusta.
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