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Mostrando postagens de junho, 2011

Lembranças

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Os azulejos estão no mesmo lugar, assim como o arranjo de flor artificial na mesa de centro. Tudo permaneceu imóvel na velha casa durante anos, mas o tom não é o mesmo e nem o cheiro; o pó é visível e incômodo, cobre os objetos. A prataria embaçada nem de longe são as mesmas daquele tempo. Os livros na estante comidos por traças, já não podem ser lidos. Eu só posso convir que até os objetos envelhecem. Lá fora o mato cresceu, tantas plantas murcharam, outras novas nasceram. O balanço em que eu voava está quebrado, a velha tabela de basquete enferrujada, não há bolas nem vidraças, nem brincadeira de taco. Só há lembranças, um passado enfeitado como bolo de aniversário.

Estilhaços

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Andei tentando juntar os cacos estilhaçados de mim Alguns pedaços quebrados por tanto cair De passo em passo, e de caco em caco tento me recompor De vazios e outros estragos, feridas e dor Sinto-me como uma bala perdida e parada estou Perco-me de tudo que vivi, ou nada restou Desconcerto desordenado Lembranças amargas, mas ainda tento Impaciência, como é difícil livrar-se dos remendos Se é falta ou excesso, é algo que nem sei dizer Talvez amanhã, novas páginas eu hei de escrever

123º aniversário de Fernando Pessoa

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O Andaime O tempo que eu hei sonhado Quantos anos foi de vida! Ah, quanto do meu passado Foi só a vida mentida De um futuro imaginado! Aqui à beira do rio Sossego sem ter razão. Este seu correr vazio Figura, anônimo e frio, A vida vivida em vão. A 'sp'rança que pouco alcança! Que desejo vale o ensejo? E uma bola de criança Sobre mais que minha 's'prança, Rola mais que o meu desejo. Ondas do rio, tão leves Que não sois ondas sequer, Horas, dias, anos, breves Passam - verduras ou neves Que o mesmo sol faz morrer. Gastei tudo que não tinha. Sou mais velho do que sou. A ilusão, que me mantinha, Só no palco era rainha: Despiu-se, e o reino acabou. Leve som das águas lentas, Gulosas da margem ida, Que lembranças sonolentas De esperanças nevoentas! Que sonhos o sonho e a vida! Que fiz de mim? Encontrei-me Quando estava já perdido. Impaciente deixei-me Como a um louco que teime No que lhe foi desmentido. Som morto das águas mansas Qu

Aquele fio desencapado

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Sorria; Bebia sua cerveja, como se fosse doce Suspirava; Festejava a vida como um carnaval Divertia-se; Ouvia qualquer que fosse a prosa Alegrava-se; Estava tudo nos conformes Se fosse dia; O sol lhe reverenciaria Se fosse noite; As estrelas brilhariam Se fosse maio; A brisa lhe sopraria no rosto Se fosse acaso; Nada planejaria A poesia; Bem contada seria As piadas; Engraçadas soariam Aquele cadarço; Ela por vezes amarraria E aquele último gole do copo trincado? ...